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Treinador de Vanderlei Cordeiro prevê baixo desempenho do atletismo olímpico brasileiro

Depois da prata de Caio Bonfim, Ricardo D'Angelo põe fé apenas em Alison dos Santos como medalhista

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No restrito panteão olímpico brasileiro em que o marchador Caio Bonfim acaba de cavar seu espaço, o paranaense Vanderlei Cordeiro de Lima é Zeus.

A disposição para terminar a maratona que liderava nos Jogos de Atenas de 2004 mesmo após ter sido vítima do padre irlandês de araque e a humildade de assumir a medalha de bronze consagraram-no como um dos maiores atletas olímpicos brasileiros da história.

E a história de Vanderlei não pode ser contada sem citar seu treinador de toda a vida, Ricardo D’Angelo, que segue ao lado do ex-pupilo como gestor do Instituto Vanderlei Cordeiro de Lima (IVCL), que atua na inserção social de crianças e jovens da região de Campinas, boa parte deles em condição de vulnerabilidade, e também da Orcampi, braço de formação de atletas, muitos de alto rendimento, do IVCL.

Vanderlei Cordeira abraça Ricardo D'Angelo antes da São Silvestre
Vanderlei Cordeiro abraça Ricardo D'Angelo antes da São Silvestre - Rivaldo Gomes - 30.dez.2008/Folhapress

Ricardo, que não pôde ir a Atenas com Vanderlei por não ser da equipe oficial, mas conhece como poucos as entranhas do alto rendimento brasileiro, vê problemas na gestão do esporte olímpico.

Nem tanto pelas questões de investimento de sempre, mas por mudar os critérios de seleção de atletas de uma hora para outra; pela "falta de argumentação do departamento técnico" da CBAT, a confederação de atletismo, e também em razão de a entidade proteger alguns grupos e modalidades em detrimento de outros.

Para ele, quem apresenta resultados "consistentes" tem chance de medalha e portanto deveria receber tratamento especial, e esse era o caso de Caio Bonfim. No entanto, Ricardo considera que ele foi preterido na atenção, por exemplo, dada ao time de revezamento 4 x 100 m, que, para ele, tem poucas chances de passar nas eliminatórias dos Jogos —ou seja, não deve disputar pódio.

O time do revezamento 4 x 100 teve direito a um "camping" em 2024 nos Estados Unidos e, mesmo assim, foi mal no campeonato mundial deste ano. Se dependesse dessa performance, o Brasil estaria fora de Paris. A classificação saiu por ranking, não por índice técnico, pela marca que o time conseguiu em 2023. Das 16 vagas do 4 x 100 nos Jogos, apenas 2 foram preenchidas por ranking.

A outra medalha no atletismo, para ele, deve vir de Alison dos Santos, nos 400 com barreiras, atleta que reputa como "fenomenal". "Só não dá para saber se de ouro, prata ou bronze", diz. Alison, o norueguês Karsten Warholm e o estadunidense Rai Benjamin, estes dois ex-campeões olímpicos, são para Ricardo "os três maiores de todos os tempos".

Ricardo vê com tristeza o momento do "fundo" brasileiro, especialmente a maratona, em que o Brasil teve seu grande último ciclo olímpico em Londres, em 2012, com os desempenhos de Marilson Gomes dos Santos, quinto lugar, Paulo Roberto de Paula (oitavo) e Franck Caldeira (13º). "Perdemos a tradição de formar bons fundistas."

"Precisamos refletir, já precisávamos ter refletido, na verdade, e ver as causas disso. Hoje os atletas já querem correr nas competições de rua, que são provas de baixo índice técnico, mas têm premiação e queimam a etapa de preparação nas pistas. É preciso primeiro começar nas pistas."

Melhor maratonista brasileiro, Daniel do Nascimento, o Danielzinho, campeão sul-americano e detentor da espetacular marca de 2h4min51s, foi, como se sabe, impedido de competir nos Jogos por suspeita de doping.

Pois ele começou nas pistas —e não na rua— ainda adolescente e justamente na Orcampi de Ricardo e Vanderlei. Mas indisciplinado à época, capaz de "sumir por uma semana sem dar notícias" e faltando constantemente a treinos, ele foi desligado próximo de completar 20 anos.

"Chegou uma hora em que ele precisava entender o que queria mesmo da vida."

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